quarta-feira, 30 de março de 2011

Uma mãe e tanto...



Hoje vou falar de uma outra mãe e outros filhos.

Tenho acompanhado vários blogs de mães, e normalmente, essas mães repartem em seus posts seus anseios, problemas e medos, principalmente, quando seus pequenos ficam doentes, ou estão com problemas. Eu mesma apesar de ser uma "recém-blogueira" já compartilhei aqui meus problemas na gestação da Natália, minhas preocupações com os pediatras, amigos invisíveis etc.

E é por isso, que hoje, vou pedir para cada mãe blogueira e internauta se imaginar no lugar de uma mãe, que há 29 anos, teve do pediatra da sua filha, a notícia de que ela tinha luxação congênita do quadril. Há 29 anos ninguém nem sonhava com googles e pesquisas online, nem com blogs onde todas se ajudam e mandam mensagens de carinho e orações. A única fonte de informações eram os médicos (até acho que isso não é tão ruim não... achamos que porque digitamos um termo no google, lemos meia dúzia de resultados, já nos tornamos mais especialistas do que os próprios médico... mas também, por outro lado, é muito bom poder estar bem por dentro do que está acontecendo... puxa, essa uma discussão boa, hein?? Acho que não tenho uma opinião bem definida sobre o assunto...). Enfim, voltando àquela outra história. Essa é a história da minha mãe! Quando eu tinha quase 4 meses, o médico viu que eu tinha uma preguinha a mais numa das duas pernas (não lembro na qual e minha mãe está viajando e não vou incomodá-la para perguntar isso...) e na hora mandou que minha mãe me levasse para fazer um raio-x. O resultado vocês já sabem. E aos 4 meses de vida, eu fui submetida à uma cirurgia de também nem sei quantas horas, para que os médicos encaixassem a cabeça do fêmur no lugar dela. E o pós operatório é que foi o problema. Depois da cirurgia, eu aos 4 meses fiquei engessada, da cintura para baixo, com uma trave afastando minhas pernas, por mais quase cinco meses. Na época, não existiam fraldas descartáveis a preço de banana como hoje. A única fabricante, no Brasil, era a Johnson. E meus pais, tiveram que vender o fusca que eles tinham para comprar pacotes de fraldas direto da fábrica, porque não havia como colocar fraldas de pano nem calcinha de borracha. E não tinha como me dar banhos, nem vestir bodys e tiptops. Só podia usar vestidos. E pensem no calor!! Eu nasci em julho, fui para o gesso em novembro e tirei só em março. Passei o verão TODO engessada!!! Imaginem o cheiro, não tinha como lavar meu bumbum, só limpar com toalhinhas (porque também não havia lenço umedecidos como hoje)!! Claro que o gesso era trocado com frequencia, mas também é claro que não era diariamente nem semanalmente!! Ao todo, meu pai disse, que eu troquei de gesso só 3 vezes. Nas outras visitas ao médico era para firmar mais ou alongar. Quando meu pai tirou meu gesso, eu estava com as pernas tão finas quanto meus braços. Pensem que aos 4 meses, um neném está começando a se virar para cá e para lá, está começando a sentar. Tudo isso, eu ainda não fazia. Quando saí do gesso, aos 8 meses, eu ainda nem sentava!!! E olha que com tudo, eu andei com um ano e um mês!! Mas sei que tudo não foi nada fácil, principalmente para minha mãe. Quando eu estava esperando a Natália, com todas as dúvidas e medos, e medo de que o que quer que ela tivesse que passar, medo de que ela sofresse, minha mãe me disse que eu sofreria muito mais e o que me aliviava um pouco era saber com certeza que ela não lembraria de nada, assim como eu, não lembro de ter sofrido nenhuma dor nem trauma por isso tudo. Até hoje tem muita gente de fora que lembra de mim no gesso.

E quem acha que minha mãe ficou traumatizada, com medo de ter outro filho e passar por esse tipo de situação novamente , está muito errado.

Minha mãe quis ter mais filhos, e então, veio o segundo, meu irmão Rafael. No dia do parto, minha mãe com toda a dilatação esperada, com contrações regulares e cada vez menores e a barriga alta. O médico fazia força para baixo, minha mãe forçava também e nada de descer. Depois de um tempo, o médico resolveu fazer cesárea. Meu irmão estava com o cordão envolta do pescoço. Se eles continuassem tentando por parto normal, ele nasceria morto. Mas graças a Deus, os médicos eram bons e sabiam o que fazer, mais uma vez.

E ainda assim, ela não parou por aí. Teve mais um filho, desta vez, sem problemas. Tudo certinho, tirando a personalidade forte e teimosa do João Luiz!! Aí sim, ela disse: missão cumprida!!!

Mas Deus tinha outros planos para ela.

13 anos depois, em junho de 2001, numa segunda feira, meu pai liga do trabalho, perguntando se minha mãe queria adotar uma criança!! "Como assim??? Você tá louco??" ela disse.
Desligou o telefone e falou para mim e meus irmãos. Nós ficamos eufóricos com a idéia!!! Ligamos para meu pai para saber melhor. Ele disse que não sabia nada, só que era uma menina e que os pais iriam abandoná-la em Curitiba para voltar para o estado de onde tinham vindo, atrás de uma vida melhor e que a servente que era vizinha deles que perguntou se ele não queria adotar uma menininha. Minha mãe disse que essa não era uma conversa para se ter por telefone e que ele que fosse pra casa, pra conversarmos. Ele, antes de ir para casa, foi ver a menina. Chegando lá, descobriu que eram duas meninas, uma de 1 ano e 2 meses e outra de 2 anos e meio. E a mãe olhou para meu pai e disse: "O sr. pode escolher!!" Nessa hora, a menor deu os bracinhos e foi no colo do meu pai. E deitou no ombro dele. Meu pai sempre diz que soube, nessa hora, que não tinha volta, que ela seria nossa. E ele foi para casa, com toda a dor no coração que se possa imaginar, porque ele teve que devolver a menina nos braços da mãe. Quando ele chegou em casa, minha mãe já tinha conversado com minha tia, que na mesma hora se prontificou a ficar com e mais velha. E nós queríamos a pequena. Nós nem sabíamos os nomes delas!! Meu pai não lembrou de perguntar. Na verdade, ele não sabia dar nenhuma descrição delas. Aí então, passamos a noite em claro, conversando, analisando e convencendo minha mãe. Na manhã seguinte, ninguém foi para aula, nem meu pai foi trabalhar. Ele foi no fórum, na vara da Infância, para ver se descobria como fazer para ficar com elas legalmente. A secretária informou que precisaria dos pais biológicos, passando a guarda total das crianças para meus pais, num audiência com o juiz. "Pronto, pensou meu pai, agora quando vou conseguir marcar a audiência??" E a secretaria foi verificar na agenda do juiz: "Puxa, tem um horário para hoje, as 14h, pode ser?" Meu pai nem acreditava. Voltou para casa e minha mãe ainda não tinha resolvido nada... Depois de mais ou menos 18 horas de dúvidas e incertezas, minha mãe achou que tinha arrumado uma solução: Então - ela disse para minha tia - você fica com a pequena e nós ajudamos a cuidar! Isso só gerou mais brigas e discussões!! Nós queríamos uma para nós!! E nessa hora, minha mãe tomou uma das decisões mais importantes da vida dela!!! "Tá bom, nós adotaremos a mais nova!!" Foi uma alegria só!! E lá fomos nós, buscar nossa nova irmãzinha e nossa nova priminha!! Chegamos e os pais biológicos estava lá e concordaram em ir no fórum para a audiência. Na terça feira, exatamente 24 horas depois do primeiro telefonema do meu pai, minha mãe foi mãe pela quarta vez!! A gente sempre brinca que essa foi a gestação mais rápida do mundo!!! E até hoje, meu pai diz que não sabe o que ele foi fazer no almoxarifado que encontrou com a servente que perguntou da criança. Coisas da vida.

No dia seguinte, a casa encheu de gente, família, querendo conhecer as novas integrantes, a Rebeca e a Ruth, minha irmã e minha prima, respectivamente (morávamos na quadra de cima da casa da minha tia e as casas se ligavam pelos fundos, então estávamos sempre juntos). E presentes. E roupas que não serviam mais de uma criança e de outra, que a tardinha não tinha nem espaço livre na cama da minha mãe. Imaginem vocês, que nós temos,
normalmente, 9 meses para comprar as primeiras roupinhas, banheira, sabonetes,
shampoos, fraldas, etc. Mas agora, de um dia para o outro, nós não tínhamos nada!! E no dia seguinte, tínhamos tudo!!! Mas acima de tudo, tínhamos mais alguém com quem repartir o amor, o amor da nossa mãe. O nosso amor.E assim, minha mãe teve quatro filhos. E com o mesmo amor e dedicação ela criou os quatro. E agora, ela é avó... e agora eu entendo um pouquinho melhor ela e como se fosse possível, a amo cada vezmais.

Já tinha idéia de escrever esse post, mas resolvi fazê-lo agora para aliviar um pouco a saudades que estou dela. Nós somos muito ligadas, conversamos várias vezes por dia, no telefone, no msn, no google talk, vou quase que diariamente na casa dela. Ela é a que sempre me ajuda, me responde, me incentiva e me aconselha. Antes de ligar para o médico, ligo para ela, para saber o que ela acha. Se meus filhos tossem, ligo pra ela, se aprendem algo novo, ligo pra ela, se falam uma pérola, ligo pra ela. É meu porto seguro, literalmente. E ela está viajando, desde domingo e volta na sexta. E eu estou morrendo de saudades.

Amo você mãe!!! Obrigada, porque é me inspirando em você que tento ser uma mãe melhor. E obrigada por você ser a vó que você é!!

6 comentários:

  1. É ni! Somos boas mÃes, mas a nossa é sempre melhor! Sabe tudo, sente tudo!!!!
    Lindo, parabéns!!!!

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  2. Que linda história! E é muito bom podermos contar com nossas mães.

    Eu sou uma filha típica, reclamo da minha mãe às vezes, a gente se estranha outras, mas qdo a coisa aperta nenhuma das 2 se lembra de nada e ela larga tudo e vem correndo me ajudar no que preciso. Eu confesso que até abuso, mas sei que nossos filhos abusarão de nós tb e não iremos ficar chateadas não é mesmo?

    Bjs

    Elaina
    http://www.vidademae.net/

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  3. Q história linda,doação total...Eu conheci 2 meninas com este mesmo problema, uma foi operada e hj está normal,mas só foi operada já grandinha a outra ñ teve a mesma sorte e está de muletas...Essa doença deveria ser mais divulgada eu mesma nunca tinha ouvido falar,só fui saber por essas meninas q são vizinhas da minha sogra.
    Mil bjs!Parabpens pela mãe q vc tem e obrigada por visitar meu espaço...Rogéria

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  4. Que lindo! Eu sempre tive vontade de adotar uma criança... Sempre. Nunca quis parir, casa, nada disso. Mas cresci dizendo que ia adotar. Já tenho duas filhas... Casei. Bom, quem sabe ainda adoto alguém um dia? rsrsrs

    Ah, e a bebezuca da primeira foto é você? Porque... MEU DEUS!! Sua filha é você novamente!!! :D


    Bjo!

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  5. no estado que eu estou, imagina se eu não chorei, né??!

    beijos!!!

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