terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ainda ontem eu perdi um dente...



Ainda ontem eu perdi um dente. E minha vó fez vitamina de abacate “porque tira a dor e faz parar de sangrar!” E ainda ontem a fada do dente me visitava a cada dentinho que eu perdia.

Ainda ontem eu ganhei uma Barbie de bicicleta, do Papai Noel e uma Xuxa.

Ainda ontem eu voltei para casa, do meu primeiro dia de aula no primeiro ano, inconformada por não ter aprendido a ler!!! E ainda ontem eu consegui ler a palavra “feijão” no quadro negro, escrita pela professora Terezinha, enquanto aprendíamos palavras com F...

Ainda ontem eu subia em árvores e brincava de casinha. Ainda ontem era eu quem escalava portas e corredores.

Ainda ontem eu fiz 5 anos, eu me lembro!! E eu lembro que ainda ontem eu queria dormir na casa da vó e assistir filmes com ela.

Ainda ontem eu recebia Caprichos e Atrevidas pelo correio. E colecionava posters dos Bakstreet Boys.

Eu andava de bicicleta pela cidade, eu brincava de esconde-esconde na rua.

Foi ainda ontem... eu juro!!!

Para onde foi o tempo, que ainda ontem eu tinha e fazia tudo isso e hoje eu sou mãe e vejo essas coisas nos meus filhos? Hoje eu tenho coisas para fazer por obrigação, coisas que eu fazia só de brincadeirinha... quando e como foi que aconteceu tudo isso?? Ainda ontem a fada do dente me visitava e hoje EU sou a fada do dente...

Levei uns 20 e poucos anos para fazer 10 anos, mais 20 anos para ter 15. Então levei cerca de uns 8 anos até chegar aos 20, mas dos  20 aos 30 não levou nem 3 anos e amanhã eu terei 40.... Como assim?? Alguém me explica essa matemática que nunca fui muito boa nisso não... 

Mas agora o que realmente me preocupa é: quantos anos ainda vão levar até eu ver o rosto do Pedro com suas primeiras penugens de barba? Mais un 7-8 anos ou serão apenas alguns meses? E para a Natália deixar de usar suas saias de bailarina com blusas de princesa, botas e gorros e passar a usar a última tendência “hipster”? Será que no próximo mês? 

Por quanto tempo ainda eu os levarei para a escola e me preocuparei com quem irá buscá-los? 

Quanto tempo falta para que eles preparem seu jantar, resolvam seus problemas e prefiram ficar sozinhos em casa enquanto eu estarei fora? 

Por quanto tempo ainda terei o prazer de colocá-los todas as noites em suas camas e rezar com eles, dar um beijo de boa noite e dizer o quanto os amos, sabendo que isso ainda é tudo o que eles precisam saber para ter um boa noite de sono? Por quanto tempo ainda minhas palavras os confortarão, ainda serão importantes e ainda ditarão seus passos? 

Por quanto tempo eu terei esses olhares inocentes, esperando por alguma explicação maluca sobre as tão complexas questões da vida: “por que nós não podemos voar?” “por que nós não podemos ver um dinossauro de verdade?” “por que eu não posso SER um trem?”. Quando foi mesmo que parei de perguntar e comecei a responder? 

Quanto tempo ainda vai levar para que eu possa ver que cumpri minha missão como mãe? Será que algum dia poderei acreditar que cumpri tal missão?

Triste é ver o tempo correr tão depressa quando tudo o que eu mais queria era que ele andasse em câmera lenta, como era quando eu ainda não tinha 10 anos. Triste é ver o tempo passar e passar e saber que ele nunca mais vai voltar. E amanhã e vou dizer: ainda ontem o Pedro era criança e queria ser um trem e a Natália queria conhecer dinossauros de verdades...